sábado, 25 de abril de 2009

Caderno Vida
25/04/2009
PÍLULA
A pílula da discórdia
Estudo lança polêmica entre especialistas quanto ao uso de contraceptivo oral antes dos 18 anos
Primeiro, veio a polêmica moral. Usar a pílula significou a liberdade sexual a partir da metade do século passado, despertando o furor de conservadores, mas servindo como bandeira de revoluções no comportamento das mulheres e dos jovens. Agora, é a vez da polêmica científica. O medicamento anticoncepcional mais utilizado no mundo está sendo colocado contra a parede, tornando-se pivô de um debate polêmico entre especialistas. A suspeita é de que mulheres que tomam o medicamento antes dos 18 anos teriam propensão maior a desenvolver câncer de mama ao longo da vida.Em tese de doutorado, o presidente da Federação Latino-Americana de Mastologia, Diógenes Baségio, avaliou 300 pacientes e percebeu um aumento nas chances de neoplasia de mama antes dos 40 anos. Em 2003, a doença representava 5,3% dos casos. Em 2007, foi constatado um salto para 16,8%.– Vários outros estudos, inclusive em Harvard, perceberam ligação entre o uso da pílula e o câncer. Se a cada mil mulheres o risco é de nove delas desenvolverem neoplasia de mama, com o uso do anticoncepcional esse índice subiria para 10,8 pacientes a cada grupo de mil – acrescenta Baségio.Apesar dos estudos, o médico considera o contraceptivo um método importante e que deve continuar sendo utilizado, desde que sob controle médico. Mas, em linhas gerais, a indicação, para ele, seria suspender a prescrição da pílula para as adolescentes, substituindo-a por preservativos. Segundo o mastologista, protocolos internacionais já tomaram essa posição e, cedo ou tarde, a recomendação também passará a valer no Brasil.Porém, a ideia é rechaçada por entidades oficiais de ginecologistas e mastologistas. A diretora científica da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), Maria Celeste Osorio Wender, afirma que não há qualquer estudo que sugira deixar de recomendar a pílula a adolescentes. Segundo ela, colocar o medicamento de lado pode ter consequências sérias nas esferas social e física.– Já temos baixa aderência no uso de anticoncepcionais. Se as meninas ficarem preocupadas com essa possibilidade, o problema vai se acentuar, e corremos risco de ver o número de adolescentes grávidas crescer muito no país – opina.
QUEM É CONTRA Defende que quem toma anticoncepcional antes dos 18 anos corre maior risco de desenvolver câncer de mama
QUEM É A FAVOR Alega que as probabilidades são desprezíveis e valoriza o método para evitar a gravidez na adolescência Múltiplas funções
Além de método anticoncepcional, pílula ajuda a diminuir as cólicas e o fluxo sanguíneo na menstruação.
O grupo dos defensores da pílula anticoncepcional para menores de 18 anos também conta com o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Ricardo Chagas, que afirma que não há contraindicação relacionada à incidência de câncer de mama. Ele sustenta que, embora algumas pesquisas mostrem uma probabilidade maior na ocorrência de casos da doença, o risco encontrado continua muito pequeno.– É um aumento desprezível, ou seja, a pílula continua fazendo mais bem do que mal para as mulheres – defende.Chagas ainda ressalta que os trabalhos mais recentes não têm observado aumento do risco nas pílulas com as novas fórmulas, que apresentam doses mais baixas de hormônio.– Embora existam contraindicações em certos grupos, a pílula é um método seguro, conveniente e bem tolerado em um alto número de pacientes. Com a grande variedade de formulações disponíveis, atualmente, pode ser feita uma escolha individualizada para cada paciente – finaliza.Em nota oficial, o presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Nilson Roberto de Melo, também mantém a orientação de seguir receitando o uso da pílula. O argumento se sustenta no elevado número de mulheres que se envolvem em abortamento inseguro no Brasil: mais de 1 milhão por ano. As complicações podem ser graves, como hemorragias, infecções, esterilidade e até morte.– O principal meio de reverter esta realidade é a redução das gestações não desejadas – sustenta Melo.Esta não é a primeira vez que a pílula anticoncepcional é vinculada ao desenvolvimento de câncer. Em 2007, uma pesquisa mundial, liderada pela Universidade de Oxford, da Inglaterra, concluiu que pode haver ligação entre o uso do medicamento e o aparecimento de câncer no colo do útero. Os especialistas pesquisaram 52 mil mulheres que tinham participado de 24 estudos em todo o mundo.Segundo os resultados, quem toma a pílula durante um longo período está mais exposto. Nas estatísticas, o risco de quem nunca aderiu ao método de desenvolver o câncer de colo do útero é de 3,8 a cada mil. Para quem tomou por uma década, a chance sobe para 4,5. Mas se suspenderem a medicação por 10 anos, o risco volta a cair e fica igual ao das pacientes que nunca usaram o anticoncepcional.Em substituição à pílula, sobrariam poucos métodos contraceptivos, como explica a ginecologista Maria Celeste Osorio Wender.– A maioria dos métodos usa o mesmo mecanismo de ação, que é a aplicação de hormônio. Na prática, sobraria apenas o preservativo e o DIU – diz.Além de impedir a gravidez, a medicação também é adotada para problemas de saúde. A pílula ajuda a diminuir as cólicas e a reduzir o fluxo sanguíneo na mestruação. Outras indicações são ovários policísticos, acne facial e regulação do ciclo menstrual. Sem ela, explica Maria Celeste, cada um desses problemas teria de ser tratado com remédios específicos, que nem sempre são os mais recomendados.
Métodos com hormônio
Injeção
Adesivo (selo sobre a pele)
Anéis vaginais
Pílula de emergência
Implante subcutâneo
Métodos sem hormônio
DIU
Preservativo masculino e feminino
Diafragma

DANIEL CARDOSO
daniel.cardoso@zerohora.com.br

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